“O cancro do colo do útero, o segundo tipo de cancro mais frequente na mulher em todo o mundo, é a doença mais relevante associada à infeção por HPV, embora também já seja um importante fator de risco para o cancro de cabeça e pescoço, especialmente na região da orofaringe”, explica o Dr. Rui Medeiros, garantindo que as políticas de prevenção e a regulamentação do acesso ao rastreio são as maiores prioridades deste grupo de trabalho, que pretende efetivar recomendações europeias padronizadas.
“Sabemos que todas as mulheres estão em risco de terem cancro do colo do útero. Em Portugal, temos cerca de 750 novos casos por ano, sendo que 350 acabam por ser fatais. O cancro do colo do útero é o 2.º tumor ginecológico maligno mais frequente nas mulheres portuguesas com menos de 50 anos. Apesar disso, é impressionante a evolução positiva que se alcançou nos últimos anos, e graças aos resultados da investigação foi possível a introdução de uma vacina contra este vírus (temos uma das melhores taxas de cobertura do mundo: mais de 90%) e a implementação do teste molecular de deteção do HPV como o método mais sensível no rastreio do cancro do colo do útero”, explica Rui Medeiros.
A investigação no IPO do Porto foi pioneira em ambas as estratégias com dezenas de estudos publicados nesta área. Os investigadores da instituição participaram nos ensaios iniciais que levaram a aprovação da vacina anti-HPV e desde o início dos anos 90 que realizam testes moleculares ao HPV, além de diversos projetos de investigação para compreensão do comportamento deste vírus, que provoca geralmente uma infeção sem sintomas. Estes investigadores também foram responsáveis por trazer para Portugal a maior reunião científica mundial sobre o vírus HPV em 2015, o ano em que foram comemorados os 50 anos do Plano Nacional de Vacinação.
A nomeação para esta HPV Action Network foi feita durante o mês de junho pela Assembleia Geral da European Cancer Organization (ECCO), uma Federação que reúne várias organizações europeias - European Association of Urology (EAU), European Cancer Leagues (ECL), European Society of Gynecological Oncology (ESGO) e European Society of Pathology – e faz recomendações junto do Parlamento Europeu sobre questões de saúde pública.
A decisão tomada pelo Reino Unido, em setembro de 2019, para integrar os jovens do sexo masculino no plano de vacinação de prevenção dos cancros por HPV inspirou a formação deste grupo europeu com o objetivo de erradicar o vírus. A nova “rede de ação” foi anunciada em dezembro, quando especialistas em cancro de alto nível de toda a Europa se reuniram em Bruxelas.